Quando aquele Relacionamento chegou trazendo todo um leque de gentilezas, me enchendo de presentes, me inundando com sua presença, me cercando de carinho e preocupação, de início, eu até recuei, mas ele insistia em demonstrar seu interesse por mim. A necessidade dele em me agradar só não era maior que a minha, de ser agradada.
E foi aí, que sim, eu me entreguei, sem reservas, para viver aquele amor!
No momento seguinte, as proibições aumentaram e, já não eram mais em tom de carinho e preocupação, mas de imposição ou manipulação. Simplesmente, o cerco se fechou comigo dentro, ali começava um processo mascarado de desconstrução do meu eu, só eu não sabia.
Dentro daquela relação, o processo de desconstrução de quem eu era só se intensificou com o passar do tempo…
As proibições veladas deram lugar às agressões verbais, morais e psicológicas.
A presença dele, que antes era motivo de alegria para o meu coração, passou a ser meu maior desespero: “Você precisa emagrecer”. “Você não faz nada direito!”. “Você é assim sempre…”“ Velha e feia quem vai te querer?”. “Eu te dou uma vida de rainha!”. “Você é louca!”. “Com quem você estava falando?”. “Você já se olhou no espelho, vestida assim parece uma vagabunda!”.
Mais um passo rumo à desintegração de quem eu era, eu já não sabia discernir certo de errado e acreditava, piamente, que eu era mesmo tudo isso que ele dizia a mim que eu era.
Contudo, eu ainda esperava que ele fosse voltar a ser o mesmo que me conquistou. Eu queria salvar ele e essa relação.
Aí chegaram as agressões físicas em forma de empurrões, beliscões, até o primeiro tapa na cara, que encheu minha boca com um gosto amargo da desilusão e, ali, no chão, jurei, para mim mesma, inúmeras vezes, nunca mais passar por aquilo outra vez.
Tarde demais, o processo de desconstrução do meu já estava concluído: eu já não sabia mais quem eu era, do que eu gostava, quais coisas faziam sentido para mim.
Eu vivia para esperar o dia que me sentiria amada daquele jeito de novo, COMO ERA NO COMEÇO.
Onde estava aquela sensação de bem-estar e segurança causada pela avalanche inicial de gentilezas, de demonstrações de afeto e de cuidado me inundaram?
Na verdade, eu queria voltar a ser aceita, acolhida, amada e nem percebia que isso nunca tinha acontecido de verdade.
Até que alguém, que me amava de verdade, não aceitou mais bater nos meus ombros e me ouvir dizer que estava tudo bem. E, num rompante de raiva, misturado com afeto, ela me arrancou do transe, abriu meus olhos e me fez ver a realidade de tudo: eu estava vivendo um relacionamento abusivo!
Sim! Eu iria precisar de um tempo para digerir tudo aquilo, entender o que me mantinha ali e criar forças para sair dali.
O relacionamento abusivo pode ocorrer de várias formas, mas tem uma característica fortemente presente em muitos deles, que é a perda da identidade.
Pode parecer que não há mais saída, mas acredite, é possível sair desse ciclo abusivo. E eu estou aqui pra te provar isso! O caminho é difícil, mas ele vale a pena.
E quantas pessoas nesse exato momento estão derramando suas lágrimas embaixo do chuveiro ou isoladas no cantinho da casa, com uma pergunta que não quer calar : “Afinal, quem ou o que me roubou de mim?”